Lendo uma recensão de um livro sobre alergias e de como o nosso sistema imunitário reage à mudanças do mundo, deparo com uma ideia em que o articulista, embora dizendo que a poluição é apenas um dos fatores do surgimento da asma em certas crianças, logo adiante reconhece que, ao contrário de certas medidas como a própria instalação de filtros de ar, começar por eliminar a poluição é a melhor abordagem, para logo concluir que refletir sobre alergias (e poderíamos aplicar a conclusão a muitas outras morbilidades) inevitavelmente nos leva a fixar a atenção na necessidade de melhorar o ambiente.
Historicamente (séculos XVIII e XIX) foram melhorias ambientais (higiene pública, abastecimento de água, medidas de saneamento) que permitiram as mais notáveis melhorias da saúde pública, mais do que outros fatores. Por outro lado, foram sendo identificadas as chamadas doenças de civilização e fatores precisos de degradação ambiental como causas de doença. Mas uma boa parte das estruturas e entidades de saúde, e não poucos profissionais do setor, continuam a pensar e a agir num «vazio ambiental». Em alguns países, há mesmo academias médicas que ignoram, subestimam ou até negam a importância do fator ambiental, inclusive no cancro. Um livrinho com o título desta minha rubrica, Ecologia da Saúde (Edições Sempre-em-Pé), foi traduzido e editado em Portugal em 2011, e a forma como (não) foi recebido em certos meios médicos mostrou bem a mesma atitude.
Livro referido: Allergic – How our immune system reacts to a changing world, de Theresa MacPhail, edição Allen Lane, recenseado por Daniel M. Davis, Professor de Imunologia em Londres. In The Times Literary Supplement, janeiro 12, 2024.